Jornal Opinião
Poesia
Alguns dos poemas publicado no Jornal Opinião de Francisco Beltrão.
Todos os poemas podem ser compartilhados e divulgados desde que citando autor e fonte.
Perguntas e respostas
Nestes tempos com tempo,
Quando desperta a paixão sedenta,
Aquela que só quer consumir,
O caos passeia livremente.
São tantas perguntas
Sem respostas
E tantas outras respostas
Sem perguntas.
Por que querer consumir tudo?
Deixar de apreciar o belo, o estético,
O sensual, as maravilhas do mundo,
Só para dizer que tem isso ou aquilo?
Nada importa frente ao ignorante.
A ignorância continuará
Se quisermos respostas para todas as perguntas.
Muitas perguntas devem ser apenas perguntas.
Poesia
Queres viver bem?
Começa a sonhar logo cedo,
Deixes o café transbordar
Tuas ideias mais verdadeiras.
Se tiveres papel e lápis
Não importa muito,
Em algum lugar ela ficará,
Escondida em algum canto.
Um dia passarás por ela,
Olharás com carinho,
E a paixão por ela voltará,
Terás um rascunho para anotar.
Sem medo ou rancor,
Raiva ou temor,
Lembra-te sempre que a poesia
Já fez muito por ti.
Agora vá!
Faça algo por ela também!
Amor
Amor que se perde no tempo
Não move uma palha no agulheiro
Porque as tormentas são maiores
Que os navios dos sonhos felizes
Passam as vidas e todos voltam
Medem tudo por dinheiro
Ganha quem paga menos
E depois revende por mais
Todos presas de um sistema besta
Sem qualquer valor para viver
Porque leva o sonho de amor
Aquela vontade de estar ao lado
Um silêncio bateu forte
Escondeu o sol na colina
E a tarde fria trouxe um poema triste
Sem amor e ainda com esperança
Amizade
Algo em desuso
Num mundo utilitarista,
Consumista
E extremado em tudo.
Ela deve estar
Escondida
Pelos cantos,
Disfarçada.
Abro o livro,
Nem acreditei
Quando li na dedicatória:
“... sua amizade”
Minha amizade?
Inspirar
Poemas sinceros,
Laços concretos.
Grande dúvida
Quando os sonhos
Começam a ficar
Mais reais.
Existe esperança?
Como saber se nada sei!
Prometo tirar o pó
Ver se ainda posso encontrá-la.
Voltas
Quando anoitece
Espero ansioso pela aurora
Quando amanhece
Espero ansioso pelo pôr do sol
Sou assim
Pareço ser do contra
Não quero ser
A terra é que gira
A vida dá muitas voltas
E gosto de todas elas
Sempre entro com tudo
Sem perguntar o porquê
Em voltas entro
Em voltas saio
Em voltas danço
Tantas voltas até cair feliz
Primavera
Primeiro sol da tua chegada
Regou tudo com nova energia.
Ir em frente nós precisamos
Ainda que um pouco frio.
Animas os viventes,
Viras motivo de alegria
Entre flores e gorjeios.
Renasces e ficas
Até o verão chegar.
Síncope nervosa
Hoje ele passou dos limites!
Sua loucura chegou ao extremo.
Vou matá-lo na primeira oportunidade
Só para viver e ser feliz.
Ele poderia ter se dedicado mais.
Ficaria feliz se cobrisse parte do meu rosto
Para ter aquele ar de Vênus de porcelana
E provocar os corações mais gelados.
Era para ele ser aplicado contra defeitos,
Uma simples função corretiva,
Acertando minhas falhas de memória
Tão soltas como poeira de estradão.
Mas, ele me fez passar vergonha...
Simplesmente corrigiu o que escrevi
E justamente o que escrevi corretamente.
Por que preciso de um corretor ortográfico?
Sussurros poéticos
Quando escrevo
A solidão vem visitar
E sussurra no ouvido
Versos desconhecidos.
Sem perder nada,
Coloco tudo no papel.
Um existir mágico
Onde flutuo sem pressa.
A torrente de palavras
Vem com vontade,
Toca minha alma de artista,
Fazendo vibrar meu ser.
Agora que tudo passou
Fica o registro da poesia.
A poesia que poderá tocar
Outros corações também.
Florescer
Teu inverno me deixa fria
Já não posso mais ficar
Precisas aprender a lição
Ir embora sem mim
Teu rigor me deu forças
Mantive o coração aquecido
Enquanto tecia minhas vestes
Para agradar aquela que espero
O inverno antes de partir
Ainda tentou mais uma vez
Com sua geada mortal
Levar toda esperança perdida
Radiante na primeira manhã
Com o sol por companheiro
Ela se vestiu de branco
Abraçando a primavera
Uma paixão
Queria hoje uma paixão forte
Sem nada para pensar
Só sonhar de improviso
Para passar momentos livres
Deram logo papel
Uma caneta tinteiro
Que saiu correndo
Esparramando sua audácia
Deslizou pelas curvas
Parou para beliscar um ponto
Resolveu encaixar numa vírgula
E ficou assim bem juntinho
Fiquei todo rubro
Quando borrei todo papel
A magia graciosa
Terminou no último verso
Sonhar e viver a morte
Viver naquela ilha em meio ao deserto de água
Na chatice do nascer e pôr do sol
Com a mesma rotina todos os dias
Tornava a solidão algo terrível
Às vezes ele fazia incursões mais longas
Tendo como limite o cansaço
Porque era sempre preciso voltar para a caverna
Onde o fogo trazia as sombras como companheiras
Toda uma vida agora está perdida na memória
Ele sabia ainda buscar o necessário para viver
Até amarrou bambus pensando em navegar na imensidão
E quando pensou nos suprimentos desistiu
Outro dia numa trilha de suas incursões
Viu no alto o macaco já sem vida num emaranhado cipoal
Aquilo chocou ao mesmo tempo em que trouxe a felicidade
Felicidade de poder escolher um fim para sua tortura
Trançou cordas e foi para o alto do penhasco
Trazia uma bananeira de sua altura nas costas
Lançou a bananeira envolta nas cordas
E ela balançou como um pêndulo sem cair
O treinamento passou a ser diário
Enquanto lá embaixo o mar cinzelava a rocha
Talhando esculturas milenares
Ele na dúvida voltava com outra bananeira
Sonhava todas as noites
Com um campo florido de azul e branco
Uma mulher pairava no ar perto das flores
Feliz ele queria ficar ali para sempre
Uma manhã cinzenta com brumas anunciava o grande dia
Resolveu subir com as cordas envoltas no corpo
Já não via o mar lá de cima e o som era baixo
Uma voz gritou lá de baixo: hoje é seu dia de sorte
A vida em sua importância precisa ser coroada
Pule aqui na água que pego você
Iremos para onde quiser
Onde possa realizar todos os seus sonhos
Ele sem pestanejar mergulhou nas brumas
O som abafado silenciou toda a ilha
Ainda olhou e viu um vulto na barca
"Venha, vamos embora!" disse a morte.
Num salto ele saiu da cama
O dia ainda não havia nascido em sua xícara de café
Seguiu sua rotina matinal apressado e saiu
Morreu ao atravessar a rua nas brumas
Vento
Assovia a escarpa
E nada escapa
A águia voa
Aproveitando a diferença
Sopra o vento frio
Pela planície
Acompanha o rio
Que segue fraco
Tudo é movimento
Desde o ramo
Até o bambuzal
Perto das árvores frondosas
A borboleta
De tão singela
Vence a rajada forte
E volta para sua flor
Vento da beira-mar
Onde o menino
Com sua pipa
Alegre olha o céu
Ondas de tempestade
Rajadas de vento
Crispam o mar
Levando o barco para longe
Como é bom
Um vento fresco
No verão escaldante
Para amainar a existência
Sempre um vento
Para pôr em movimento
Quebrar a monotonia
Trazer algo novo
Sem ideia
Um papel branco
Sem ideia
Para começar
Só uma letra
A
A letra primeira
A de amor
A de alegria
Poderia ser
A de agonia
A de adeus
A de acabou
Vou preferir outras
A de amiga
A de afável
A de autor teimoso